Da ação prática à consciência

Uma criança não poderá resolver um problema de matemática com seus conhecimentos práticos de encestar uma bola de basquetebol. Mas poderá sair-se melhor quando for resolver problemas de matemática com os conhecimentos que formam o conhecimento de encestar a bola de basquetebol. Complicou? Nem tanto. Na base do gesto, extremamente complexo, de encestar uma bola, há muitos conhecimentos, geralmente inconscientes, coisas que as pessoas que sabem fazer talvez nunca venham perceber. E esses conhecimentos só se transformarão em conhecimentos generalizáveis a outras situações se chegarem, minimamente, à reflexão, à compreensão, à consciência. Conhecimentos que formam o gesto de encestar a bola podem ser, por exemplo, coordenações de espaço, de tempo, a apreciação do volume e do peso da bola, a distância e direção do aro, a relação com os companheiros de jogo, as regras que permitem ou não as atitudes, etc. Tudo isso pode passar despercebido sempre, ou pode ser chamado para outros níveis de conhecimentos, nem melhores, nem piores, mas diferentes. Por exemplo, podem ser levados ao nível da reflexão, apenas porque o professor criou problemas, obstáculos, conflitos em relação às atitudes dos alunos de encestar a bola. Não é nada difícil; basta, a partir da situação original, sugerir outras mais complexas. Se o professor criar tais conflitos, ele gerará dúvidas nos alunos, e a dúvida é uma percepção organizada que leva para o nível da representação aquilo que estava apenas no nível da prática motora. Depois do plano da reflexão, com o material levado da ação à representação, o aluno pode compreender coisas que apenas fazia, mas não compreendia. E essa compreensão fica, vira conceitos, vira ideias, vira pensamento. E aí pode-se chegar ao nível mais elevado, um conhecimento que é superior a todos os outros, que paira sobre os demais. Trata-se da consciência, o conhecimento do conhecimento.